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O DAVI DA MINHA VIDA

Quando aprendi a ler eu adorava um livro dos poucos que havia na minha casa que era um livro de histórias biblicas ilustrado. Eu sabia quase de cor cada uma. Um dos meus heróis favorito era Davi, pequeno, fransino mas com a força e a coragem que Deus lhe deu ele venceu o gigante. Anos passaram e um dia já na minha profissão de enfermeira eu encontrei o Davi da minha vida. O Davi era um menino de 10 anos, esguio, irrequieto que quando entrava no serviço já provocava um rebuliço brincando com toda a gente. A alegria de Davi ao entrar para fazer tratamento era a mesma com que saía para a sua casa humilde. A sua mãe não podia acompanhá-lo nos internamentos porque tinha de cuidar do irmão mais novo e o pai tinha outras prioridades na vida que não incluía cuidar da família. Por seu lado Davi cuidava de todos que o cercavam e confortava quem precisava. Davi não tinha medo de nada, na hora de fazer um procedimento doloroso que ele já conhecia, ele sorria posicionava-se na marquesa e entregava o seu corpo, nem um tremor, nem uma lágrima ou gemido. Davi era uma rocha. Numa noite próxima dos seus últimos dias, sim Davi tinha uma doença oncológica que era o seu Golias, Davi ficou mais ansioso, queixndo-se de dores, eu com ele testámos todas as terapias possíveis para controlo da dor, primeiro a medicação, depois a massagem, a aplicação de frio/calor, a imaginação guiada e o relaxamento...no fim ele chamou novamente e disse: - Sabes? Acgo que só preciso que fiques comigo até adormecer. E aí ele falou da história que tinha vivido com o avó, vitima da mesma doença do neto e não tendo a sua resistência tentou o suicídio e o Davi atento correu com todas as suas forças para a loja onde o avô havia entrado e retirou a corda das suas mãos e abraçou-o. Fiquei esmagada com a coragem, presença de espirito desta criança. No seu penúltimo dia de vida terrena, Davi estava inquieto, queria ficar ocupado, não havia educadora no seuviço e a mãe não estava e eu pedi que escrevesse um texto sobre o seu dia perfeito.
Ele aceitou a tarefa e com todo o empenho escreveu sobre um Domingo que nunca tinha vivido, o pai a voltar de uma pesca e a abraçar a família com um braço mostrando o outro exibindo um balde cheio de peixe prateado. Terminou com um desenho e veio mostrar-me orgulhoso. Li com atenção e escondi a emoção do amor que aquela folha de papel continha, demonstrei com uma abraço que tinha gostado e ele sorriu e disse: - Acho que gostava que fosse publicado na revista "Acredita" que contra outras histórias de meninos como eu. Entendi que estava a partilhar comigo uma das suas últimas vontades e concordei que iria tratar disso. E foi feito. No último dia recebi o turno e dirigia-ma para o quarto dele e ouvi um chamado dele, chamou claramente o meu nome e eu ouvi no meu do rebuliço de um serviço de pediatria. Corri para junto dele, estava perto e ele acabou de partir. Ele não chamou pela mãe, o pai ou o avô...chamou por mim. Isso ainda hoje ecoa em mim. Sei que nesse mesmo dia ele teve o seu Domingo feliz junto do seu verdadeiro Pai que o amou tanto que o quiz mais cedo para junto de si,

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