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O PAÍS ONDE O TEMPO PAROU...

Quando era pequena, como sou de uma família católica, cresci entre acontecimentos religiosos, na minha aldeia. Os dias arrastavam-se numa doce calmaria, alheada do resto dos problemas do país e do mundo. Aldeia de agricultores, habituaram-se a regular as suas vidas ao sabor dos condições meteorológicas, e, nesse tempo as previsões que eram anunciadas no final do noticiário da noite, era mais falível que a sabedoria adquirida ao longo dos anos e que se adivinhava nos ossos, pela interpretação do céu, da direcção dos ventos, das fases da lua e dos ditos populares repetidos dos os anos no Borda de Água. Só as festas e romarias conseguiam acordar o povo desta letargia. As mulheres recolhiam as flores mais vistosas dos seus jardins e enfeitavam os altares dos diferentes santos que viviam na igreja fria e bolorenta. O altar-mor era o que exigia maior dedicação e empenho e havia uma luta mais ou menos pacífica, para quem teria essa honra maior! As ementas das casas mais ricas eram escolhidas com bastante tempo de antecedência. As casas eram lavadas, esfregadas e enceradas à mão e com muito esforço, como penitência por todos os pecados do ano. O Domingo era o primeiro dia da festa e o mais importante, mas no sábado à noite, as ruas eram inundadas pelos cheiros da comida cozinhada no forno a lenha. Finalmente, chegava o dia tão esperado, as famílias vestiam o melhor fato e calçavam os sapatos engraixados e polidos com esmero. As mães que tinham dinheiro para fatos alugados, vestiam os seus meninos de anjinhos entre os 1 e os 3 anitos e entre os 3 e os 10 já tinham a responsabilidade de representar as personagens dos santos maiores. Na igreja após a missa, as crianças com vestes mais humildes eram chamados a comparecer na sacristia e era-lhes vestida a vestimenta de figurantes, que é como quem diz o facto de cruzado, que era basicamente um pano branco com um buraco para enfiar a cabeça e com uma cruz enorme que ocupava a parte da frente do pano, era suficientemente comprido para camuflar os sapatos rotos e sujos e a roupa menos composta. Nas janelas expunham-se as melhores colchas e toalhas bordadas, de modo a dar um ar festivo ás ruas e também esconder a degradação dos edifícios, não fosse o Senhor Jesus Cristo ficar zangado com a pobreza. Quando o SENHOR passa, todos baixam a cabeça em sinal de respeito e as mulheres baixam os olhos como se o seu olhar pudesse ofender a Deus. As crianças choronas são afastadas do cortejo de modo a não incomodar o Senhor. É um momento de fé intenso que acaba de forma abrupta, para as famílias que vêm o cortejo das janelas, assim que o cortejo passa a curva da rua, todos se precipitam para o festim que os espera à mesa! Pensado nesses dias de festa religiosa, não consigo deixar de comparar com o que, hoje em dia, se passa nos eventos políticos. Importa limpar a sujidade da vista, não do Senhor, mas dos meios de comunicação, de modo a que tudo esteja arrumadinho, no país das maravilhas. Esconde-se a miséria, a fome, a corrupção, a poluição sonora, visual e olfactiva, porque é muito importante, para quem governa, que esse momento saia perfeito na fotografia! Clik! E já está! A comitiva sai em alta velocidade e tudo volta à realidade!

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