COMO É POSSÍVEL UM TEXTO DE 1896 ESTAR TÃO ACTUAL?
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.
O meu Avô sempre me disse que Deus é Amor. Era um homem que acreditava profundamente em Deus e não tinha vergonha de afirmar a sua fé. Era um homem apaixonante, todo o seu discurso e os seus gestos transmitiam paz e amor. Quando alguém o desiludia ficava triste, magoado, ferido como uma criança que cai pela primeira vez. Sofreu muito na fase final da sua vida, perdeu o Grande Amor da sua vida, a minha Avó, com a qual namorara desde criança. Primeiro ficou perdido nas lembranças da minha avó que sofreu de Alzeimer, sentiu a dor de ser esquecido pela sua amada, sentiu a sua ausência, sentiu a falta dela ainda enquanto ambos viviam...Depois ela morreu e ele jurou que jamais voltaria a escrever sobre o Amor e que só voltaria a encontrar alegria quando a voltasse a encontrar no Céu! O coração do meu Avô fechou-se, uma núvem escura gelou a seu coração... Um dia o meu Avô disse que sentiu a minha Avó ao seu lado durante mais uma noite que chorava de saudade...colocou a mão no lado vazio d
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